O Peixe Não Quer Pegar o Meu Anzol: A Vitimização e a Superproteção Parental

Certo dia, durante uma reunião de trabalho, ouvi uma frase que me fez refletir: se um pescador não consegue pegar um peixe, quem é o culpado? A vara de pescar que não é boa, a isca que não atrai, ou será que o problema é o peixe que não quer pegar o anzol? Essa ideia, do “peixe não querer pegar o anzol”, se aplica a várias situações da vida e, neste caso, vamos usá-la para falar sobre um fenômeno que está crescendo nas relações entre pais e escolas: a vitimização e a superproteção.
Muitos pais, ao verem seus filhos enfrentando desafios, ficam ansiosos e acabam colocando suas inseguranças nas costas da escola e dos professores, culpando-os pelos fracassos que, na verdade, poderiam ser um problema compartilhado.
O Que é Superproteção Parental?
Superproteger o filho é uma prática comum, feita com boas intenções, mas que pode ter efeitos negativos no crescimento emocional e social das crianças. Quando tentamos proteger nossos filhos de todos os “perrengues”, acabamos criando um ambiente em que eles não aprendem a lidar com frustrações, desafios e até mesmo com o fracasso. Isso faz com que as crianças se tornem muito dependentes dos pais, tornando-se adultos que têm dificuldade em se adaptar às dificuldades da vida.
Essa dinâmica de superproteção se agrava quando os pais, na tentativa de garantir que seus filhos sejam tratados como “especiais”, começam a culpar a escola e os professores quando as coisas não vão bem. Esse tipo de atitude, além de prejudicar a criança, torna a escola um lugar tenso, onde a colaboração vira um desafio.
A Vitimização: Quem É o Vilão Aqui?
A vitimização, nesse contexto, é a tendência de ver os filhos como vítimas de uma situação e colocar a culpa em fatores externos. Isso pode acontecer de várias formas:
1. Culpa aos Professores: Muitos pais acreditam que a responsabilidade pela educação do filho é inteiramente da escola, e quando a criança enfrenta dificuldades, blame-os. Essa visão não só desmerece o trabalho incrível que os educadores fazem, mas também ignora a importância do envolvimento dos pais no aprendizado.
2. Expectativas Irrealistas: Às vezes, os pais têm expectativas tão altas em relação ao desempenho escolar e ao comportamento dos filhos que, quando eles não conseguem atingir esses padrões, a frustração é direcionada à escola. Isso gera um ciclo de descontentamento que prejudica a relação entre os pais e os educadores.
3. A Cultura do “Certificado de Participação”: Vivemos uma época em que muitos acreditam que todos devem ser vencedores, esquecendo que o verdadeiro valor está no esforço e na resiliência diante dos desafios. Isso pode levar os pais a se sentirem injustiçados quando seus filhos não recebem o mesmo reconhecimento que outra crianças.

E Os Efeitos Disso Tudo?
As consequências dessa superproteção e vitimização vão muito além do que podemos imaginar e afetam tanto as crianças quanto as escolas. Entre os efeitos principais, podemos destacar:
– Crianças Dependentes*: Os pequenos que não aprendem a lidar com desafios e frustrações podem ter dificuldades em fazer amigos e se adaptar em ambientes novos na vida adulta.
– Relações Escola-Família Complicadas*: A falta de colaboração entre pais e educadores cria um ambiente estressante. Isso pode fazer com que professores se sintam desmotivados e menos envolvidos no desenvolvimento dos alunos.
– Cultura do Silenciamento: Muitas vezes, essa vitimização cria um clima em que os educadores se sentem acuados, com medo de se pronunciar sobre os problemas que envolvem seus alunos.
Como Podemos Mudar Esse Cenário?
É fundamental que pais e educadores busquem um caminho de entendimento e cooperação. Aqui estão algumas sugestões:
– Comunicação Aberta: Criar um espaço onde pais e professores possam conversar abertamente sobre problemas e preocupações pode ajudar muito. Assim, todos se sentem ouvidos e têm a chance de colaborar.
– Educação Emocional: Incluir a inteligência emocional na educação pode ser muito útil. Ensinar crianças e pais sobre como lidar com frustrações e desafios pode fazer uma grande diferença.
– Valorizar o Fracasso como Aprendizado: Precisamos mudar a mentalidade de que fracassar é algo ruim. Ensinar às crianças que os erros são oportunidades de aprendizado é essencial para seu crescimento.
Conclusão
A metáfora do “peixe não querer pegar o anzol” nos faz pensar que, às vezes, as expectativas e reações que temos podem estar desalinhadas com a realidade. A superproteção e a vitimização dos pais acabam criando um ciclo negativo que prejudica o desenvolvimento dos nossos filhos. Ao invés de colocar a culpa em outros quando as dificuldades aparecem, é hora de construir uma cultura de responsabilidade compartilhada, onde todos – pais, educadores e alunos – trabalham juntos para promover a resiliência e o crescimento saudável das crianças.

Bruno Souza é CEO da educação, comunicador e empreendedor